Quer trabalhar em INOVAÇÃO? O que eu aprendi em 10 anos está aqui.

O ano era 2011 e eu começava a minha primeira startup em Maringá-PR sem nem mesmo saber o que significava a sigla CNPJ – e muito menos o que era uma startup. Não tinha a menor noção do que aconteceria nos próximos 10 anos até hoje. 

O Guilherme profissional de hoje com certeza agradece aquele Guilherme cheio de frio na barriga de 2011. Em resumo, faria tudo – mais ou menos – igual. Os acertos e os erros.

De lá para cá, fundei 2 startups, fui advisor de outras 4, gestor de programas de inovação que aceleraram mais de cem startups e agora, gerente de inovação do maior complexo de tratamento oncológico da América Latina em Barretos-SP. Há 10 anos não se falava em “carreira em inovação” como conhecemos hoje – e ainda conhecemos muito pouco. Então, nunca escolhi “trabalhar com inovação”. Aconteceu! E aqui você vai entender o motivo. 

Mas esse texto não é sobre mim ou minha carreira – que nem merece um texto. Este texto é sobre alguns aprendizados trabalhando com startups e inovação nos últimos 10 anos. 

Para facilitar a leitura, dividi este texto em três partes.

#01 – O que você precisa saber antes de “entrar de cabeça”?

#02 – Fazendo parte do “teatro” inovador

#03 – Como ser levado a sério no meio dos post-its? 

Este texto não é definitivo, está sujeito a complementação e talvez daqui a 10 anos eu possa criticar muito do que eu escrevi aqui – ou agradecer por ter registrado esses aprendizados. Faz parte do crescimento. Agora, pegue o seu café e vamos nessa!

#01 – O que você precisa saber antes de “entrar de cabeça”?

Trabalhar com inovação é lidar diariamente com iniciativas empreendedoras em diferentes contextos. E empreender é um negócio – e carreira – de alto risco, em qualquer dimensão. É muito provável que, mesmo em empresas estabelecidas e pela brevidade do ecossistema de inovação brasileiro, você ainda trabalhe em iniciativas e departamentos de inovação que ainda “estão se provando”. 

Consequentemente, trabalhar em inovação – dentro de uma grande empresa, em uma startup ou criando o seu próprio empreendimento inovador – também é basear a sua carreira em fatores que envolvem – em maior ou menor dimensão – risco. Na grande maioria das carreiras em inovação, você vai estar exposto a condições de extrema incerteza.

É a vida de startup extrapolada para sua carreira. Mas este não é um texto desanimador – prometo! 

É claro que existe muita iniciativa relevante no país e gente séria que está gerando resultado e colocando grana alta no caixa de muitas companhias – e startups – pelo país. E fazendo isso há muitos anos de forma séria e consistente. Sebrae, Abstartups e dezenas de aceleradoras e corporates pelo Brasil estão aqui para provar isso! Mas ainda tem muita empresa – e profissionais – fazendo e pensando inovação no efeito manada. 

É cool, sexy e pega bem colocar no relatório anual de investidores as cifras investidas em startups, eventos e hackathons. Isso faz com que ainda exista muita “espuma” por aí, ainda que muita gente – e empresas – estejam fazendo muita coisa séria e consistente, repito.

Como mercado novo e ainda em consolidação, também existe muita oportunidade e lacunas para novos atores – e pessoas – se posicionarem. Isso não significa, de forma alguma, seguir receitas de sucesso ou repetir carreiras de quem já se estabeleceu na área. Ver cases é divertido e inspirador, mas como uma área ainda em desenvolvimento, você deve escrever a sua própria história na área de inovação. 

Se você está lendo este texto, provavelmente já trabalha ou quer trabalhar na área. Minha pergunta para você é: você realmente QUER trabalhar em inovação ou só acha cool a palavra da moda ser “startup” vendo salas cheias de puffs coloridos?

Olha onde você pode estar se metendo…

Crescemos muito – muito mesmo – em ciência, tecnologia e inovação no Brasil nos últimos 20 anos. Desaceleramos nos últimos cinco – não é opinião, são dados – e ainda temos muito a fazer nos próximos. A prova disso é o Índice Global de Inovação, que coloca o Brasil na 54ª posição entre 132 países em 2022. A nossa posição já foi melhor – 47ª posição em 2011 – e pior – 57ª posição em 2021. No geral, ainda somos pouco inovadores apesar de muito criativos. Sim, criatividade e inovação são coisas totalmente diferentes – já falo disso daqui a pouco.  

Você pode ver o ranking completo neste link: Global Innovation Index 2022: What is the future of innovation-driven growth?

De acordo com o relatório da UNESCO em 2021, o Brasil investiu cerca de 1,26% do PIB em iniciativas e fomento para inovação, ainda longe da marca percentual – mais distante ainda em valor financeiro absoluto – de EUA – com 2,19% do PIB – e Alemanha – com 3,09% do PIB

Para os bons empreendedores de carreira, isso é um prato cheio de oportunidades! As iniciativas estão apenas no começo – pelo menos é o que eu entendo, mera opinião. Portanto, trabalhar em inovação é também um mar de oportunidades!

O desenvolvimento do ecossistema de inovação brasileiro nos últimos anos foi animador. Muito mais estruturado, coeso e maduro, é fácil mensurar nosso crescimento em número – de startups, deals, investimento, M&A’s, corporates com iniciativas de inovação aberta e muito mais. 

Apesar deste crescimento no Brasil, empreender continuará sempre sendo um negócio de alto risco no país e em qualquer outro lugar do mundo. Consequentemente, atuar com inovação é manter contato próximo com empreendedores – e intraempreendedores – o que faz com que sua carreira seja exposta a cenários de grande incerteza.

Gordon Moore estava certo…

Em 1965, o cofundador da Intel Corporation cravou uma visão que seria considerada a maior previsão tecnológica do século. Gordon Moore afirmou que a capacidade de processamento de componentes eletrônicos – entenda-se poder computacional – dobraria a cada 18 meses mantendo o mesmo – ou menor – custo por componente. A Lei de Moore, como ficou conhecida, explica o crescimento exponencial da tecnologia e o barateamento que proporciona uso e aplicação da tecnologia em massa.

O link do artigo original – para nerds – é este: Cramming more components onto integrated circuits (Gordon E. Moore, April 19, 1965)

É exatamente por isso que você está lendo este artigo de um computador, notebook ou celular que não ocupa mais o espaço de uma camionete à sua frente. Os dispositivos são muito mais potentes, menores e baratos do que 70 anos atrás.

O crescimento e popularização da tecnologia proporcionou ganhos em escala em contextos diversos nos últimos anos. E, por muito tempo no mundo dos negócios, utilizar a tecnologia como estratégia de maximização de vantagem competitiva no mercado foi um importante diferencial para empresas novas e consolidadas. 

Foi – no passado. Esse crescimento exponencial também proporcionou comoditização. Explico: ter um sistema de gestão empresarial no início da década de 90 era uma vantagem competitiva clara em termos de eficiência operacional para diversos tipos de negócio. Hoje, trata-se de critério de sobrevivência. Toda empresa que deseja permanecer no mercado precisa ter uma estratégia mínima de digitalização. Como isso está ligado à sobrevivência, todo mundo que permanece vivo no mercado faz. Se todo mundo faz e tem, vira commodity. 

O artigo – IT Doesn’t Matter – da Harvard Business Review de 2003 – sim, 2003 – já abordava o efeito da comoditização da tecnologia da informação. 

Se apenas comprar e utilizar tecnologia passou a ser requisito básico de sobrevivência das empresas, entende-se que é preciso ir além dos departamentos de TI, que continuam com papel fundamental no ecossistema de negócios. E nesse caso, o “ir além” significa não apenas consumir, mas criar seus próprios recursos tecnológicos ou aplicar a tecnologia em diferencial claro em termos de modelo de negócio. 

Explicando melhor: comprar um ERP não é diferencial competitivo, é critério de sobrevivência. Mas utilizar a tecnologia para criar um novo canal de venda, otimizar a sua cadeia de distribuição usando inteligência artificial ou transformar um negócio em plataforma digital, isso pode – sem certezas absolutas – se transformar em um diferencial competitivo. 

E aí surgem as carreiras na área de inovação…

As áreas de tecnologia para aquisição, implantação e consumo de sistemas, aplicativos e derivados continuam sendo importantes pilares de sustentabilidade para os negócios. Mas o “ir além” do consumo é criar ou se antecipar no uso da tecnologia para transformação do core do negócio. É aí que surgem as atuações dos profissionais de transformação digital, inovação e afins.

O mais importante para as empresas – e startups – que entendem esse conceito é criar uma estratégia de inovação consistente atrelada à estratégia corporativa do negócio, atraindo, reposicionando e retendo pessoas – talentos – capazes de conduzir mudanças profundas na organização.

É aqui que você entra…

Inovar não é fazer ou participar de meetups, hackathons, oficinas de Design Thinking, programas de aceleração de startups ou corridas de ideias. Esses podem ser caminhos possíveis, mas estão longe de representar o resultado final. É muito mais profundo e deve – necessariamente – estar ligada à estratégia corporativa de longo prazo da empresa. Mas não é sempre assim que acontece.

As organizações perceberam que o relacionamento com startups é um caminho rápido para ajudá-las nesta transformação, já que muitas vezes elas não possuem o conhecimento, a velocidade e a percepção de realidade sobre novos modelos de negócio. Agora, elas passam a não apenas consumir, mas a criar ou readaptar a tecnologia para viabilizar novos modelos de negócio – novos produtos, serviços ou mesmo empresas spin-offs.

Este é o tipo de empresa que você deve permanecer por perto para trabalhar na área, sejam empresas estabelecidas ou startups: aquelas que entendem que inovação está ligada a uma questão estratégica de reposicionamento do core da empresa, e não apenas criação de eventos sem fundamento.

O problema é que quando isso não está ligado à estratégia de longo prazo da instituição, inovar vira um “teatro”, que vou apresentar melhor na parte 2 deste artigo – e como você pode sobreviver a ele. 

Carreiras possíveis e habilidades necessárias…

Conversando com amigos da área, a história quase sempre se repete: a grande maioria das pessoas que trabalham na área de inovação, nunca escolheram trabalhar em inovação. Na minha – mera – opinião, isso acontece porque profissionais que trabalham na área costumam materializar seu senso de curiosidade, impaciência e espírito empreendedor na própria carreira, e acabam preferindo lidar com caminhos pouco conhecidos. Portanto, naturalmente se aproximam de iniciativas empreendedoras, muito ligadas à área de inovação. 

Você fica confortável neste contexto?

Bingo, foi assim que entrei na área há 10 anos. Comecei minha própria empresa e nunca mais me distanciei do ambiente empreendedor. Se você se identifica com a descrição acima, é um forte candidato a trabalhar em inovação. 

Não que não seja possível absorver as competências e desenvolver as habilidades para trabalhar em inovação, mas se manter vivo – e motivado – no meio de tanta incerteza só é possível se estiver intrinsecamente ligado ao seu propósito de vida. Isso é Motivação 3.0.

Vale dar uma olhada aqui: Dan Pink: The puzzle of motivation | TED Talk

Então, por que você deveria trabalhar em inovação?

Resposta curta: porque você fica confortável em criar coisas em cenários incertos.

Demorei para entender isso, mas hoje percebo um certo padrão nos demais colegas que trabalham na área de inovação. Trata-se de uma vocação, e não necessariamente uma escolha de carreira. 

Isso serve para os três caminhos possíveis mais conhecidos – não excluindo outras centenas de possibilidades – para quem quer entrar na área de inovação. 

1 – Você se torna um empreendedor de uma startup – ou de um negócio de base inovadora não necessariamente escalável.

2- Você trabalha em uma startup – ou scale-up – em áreas e operações pouco consolidadas no mercado tradicional.

3- Você trabalha na área de inovação em uma grande empresa – ou uma instituição de suporte ao empreendedorismo inovador. 

A grande maioria das pessoas que eu conheço que trabalham na área de inovação se distribuem nas três carreiras possíveis acima. E a grande maioria delas já estiveram em pelo menos duas das três carreiras acima – ou algumas delas nas três. E este é o melhor caminho para aprender como trabalhar em inovação: criando, empreendendo e colocando a própria pele em jogo. 

Em resumo, existe um único motivo para você querer trabalhar em inovação: VOCÊ QUER TRABALHAR EM INOVAÇÃO! Simples assim. Você fica confortável em empreender e criar cenários novos! Trabalhar nesta área NÃO é fazer eventos e hackathons, e sim acordar todos os dias para provar e reinventar produtos, serviços e modelos de negócio de empresas, nem que seja criando a sua própria startup. 

#02 – Fazendo parte do “teatro” empreendedor

Salas coloridas com frases motivacionais de empreendedores famosos, puffs descolados, paredes com post-its, analistas “no dress code” e vários eventos com nomes em inglês. Tudo muito sexy para encher os olhos de qualquer visitante. 

Isso tudo não significa que uma organização – ou startup – está inovando. Muitas vezes apenas significa uma cópia barata de um escritório estilo Vale do Silício. Todas as organizações querem e precisam inovar para sobreviver, mas poucas querem “pagar o preço” para realmente inovar. 

Garantir sobrevivência e sustentabilidade de um negócio exige capacidade de colocar essa transformação em prática – de canais, produtos e modelos de negócio, principalmente. O problema é que muitas empresas respondem a essa necessidade com mais processos – e burocracia – ou copiando fórmulas prontas em formato de escritórios coloridos. 

Eis que surge o “teatro” da inovação…

O termo não é meu, e aparece centenas de vezes em artigos e publicações relevantes na área da inovação, incluindo este Why Companies Do “Innovation Theater” Instead of Actual Innovation – também da Harvard Business Review do meu guru Steve Blank. 

Segundo sua abordagem, as organizações quando crescem se especializam em criar três tipos de teatro:

1. O teatro da inovação: adotar atividades prontas e conhecidas que moldam a cultura, mas não materializam produtos reais – hackathons e workshops de inovação.

2. O teatro organizacional: contratar consultorias que reorganizam as estruturas da empresa e criam uma “maquiagem” de agilidade que na prática não existe.

3. O teatro do processo: reformular os procedimentos atuais com termos ágeis e modernos sem mudar a profundidade da cultura para execução realmente ágil.

Isso pode acontecer com empresas estabelecidas, startups ou instituições públicas. Todas querem o benefício da inovação – eventos com cerveja regado a post-its na parede – mas poucas querem correr o risco de realmente transformar estas ações em novos produtos e aplicar em seu modelo de negócio. 

Não existe nada de errado com os eventos e programas, desde que eles sejam o MEIO, e nunca o RESULTADO final do seu trabalho. 

Entre os diversos tipos de atores neste ecossistema, as grandes empresas são as mais propensas a criar “teatros” de inovação: possuem recurso financeiro em abundância, tempo disponível nas diversas camadas organizacionais e estabilidade de mercado para responder com tempo a estas mudanças. Muitas vezes, a inovação não é “assunto urgente”, e acaba virando uma atividade totalmente desconexa da realidade e estratégia do negócio. A transformação tão necessária vira recreação corporativa. E a recreação vira teatro!

Mais uma vez: existem exceções incríveis no país. Empresas – e startups – realmente jogando sério, criando valor e colocando dinheiro no bolso de forma consistente. São empresas – e profissionais – que entenderam que o jogo é estratégico e deve ser pautado em resultado, e não em número de eventos durante o ano.  

Muitas empresas já estão indo além do “teatro”, e o gatilho para perceber isso é quando a inovação começa a ser entendida como um componente estratégico. A minha dica é: ao entrar na área de inovação, aprenda a diferenciar as iniciativas relevantes dos infinitos “teatros” da inovação em formato de eventos coloridos. Faça a pergunta: quantos projetos reais e aplicáveis existem além dos eventos e puffs coloridos? Quais resultados geraram? 

O problema é que o mapa não está pronto…

Ou seria solução? Não existe um caminho conhecido do ponto A ao ponto B para uma empresa – ou startup – inovar. Sendo assim, também não existe carreira linear em inovação. Como disse anteriormente, você vai perceber a sua vocação para trabalhar em inovação entendendo o quanto se sente bem em estar em cenários incertos que exigem criatividade, impaciência e curiosidade. E empreendedorismo!

A verdade é que existe uma diferença fundamental em relação a qualquer outra carreira: você será sempre o elo mais próximo – e mais parecido – com os empreendedores. Algumas vezes, você deverá ser o próprio empreendedor. 

E empreender exige características específicas e generalistas diferente de muitas outras carreiras: você deve cultivar uma mentalidade aberta e preparada para o aprendizado diário, pronto para falhar, aprender e fazer novamente mais rápido. 

E nada mais simples para explicar essas novas habilidades do que o bom – e já velho – conceito do T-Shaped Professional. O profissional T-shaped combina a profundidade de conhecimento em uma área específica com habilidades generalistas e conhecimento amplo em outras áreas. 

O formato do “T” é usado para representar uma combinação de habilidades especializadas – na vertical – e componentes generalistas – na horizontal. Para a área de inovação, habilidades em engenharia, produto, administração, ciência e tecnologia são indispensáveis na composição do perfil profissional, porém deve sobressair um conjunto pequeno de especialidade na sua vertical de atuação. 

Por exemplo, apesar do meu background acadêmico em engenharia – graduação e mestrado – naveguei durante alguns anos em desenvolvimento de produtos de software – até arriscando “codar” algumas páginas web – gestão de empresas – principalmente finanças – marketing – incluindo algumas certificações do Google – e mais recentemente mergulhando no universo da saúde. Em nenhuma delas me considero um especialista, mas posso conversar tranquilamente com profissionais da área mais experientes do que eu. 

O meu “T” se forma quando o assunto é “desenvolvimento de startups”. Empreendi duas startups do zero, fui advisor de outras 4 e acompanhei mais de 100 em programas de aceleração. Portanto, me sinto extremamente confortável em navegar nessa área, com o conhecimento teórico que adquiri com mais de 10 anos de prática vivendo o “skin in the game” do empreendedorismo. 

Em um ambiente em que grande parte das iniciativas de inovação e programas para startups são conduzidos por pessoas que nunca tiveram um CNPJ, considero o meu “T” o diferencial no ambiente em que estou inserido. Detalhe: ele não serve para absolutamente nada em centenas de outros cenários, mas me dá uma grande vantagem competitiva no meu ambiente. 

Essa história toda do T-shaped vale apenas para fundamente minha dica nesta sessão: sua carreira – muito provavelmente – será não-linear, mas a formação da sua matriz de habilidades e competências pode ser planejada e executada de forma pensada. A reflexão é: qual é o seu “T” para trabalhar em inovação? 

Vale olhar também o artigo: Introducing T-Shaped Managers: Knowledge Management’s Next Generation

Por falar em carreira não-linear…

Uma pesquisa conduzida pela Innovation Leader mostrou que o tempo médio de permanência de executivos na área de inovação é de 4,4 anos. A permanência é um pouco mais longa para os VPs – 5,4 anos – e um pouco mais curta para os gerentes – 3,3 anos. A pesquisa completa é How Long Do Corporate Innovation Jobs Last, and What Happens Next? – InnoLead

Fazer carreira na área de inovação não é para quem valoriza cenários estáveis e conhecidos, sendo válido para empreendedores de startups, colaboradores de grandes empresas e instituições de apoio ao empreendedorismo. A lógica é sempre a mesma: você estará exposto a cenários de extrema incerteza. 

Ainda está curioso se fazer carreira em inovação é para você? Faça como uma startup: crie algumas hipóteses de carreira, vá a campo validá-las, crie um protótipo e tenha certeza de que funciona antes de arriscar tudo. Funciona para empreender e funciona para sua carreira. 

Por fim, aprender fazendo – seja abrindo uma empresa ou procurando uma oportunidade na área – é a melhor forma de acelerar ao máximo sua curva de aprendizado. Eu sempre encorajo as pessoas a tentarem. Se funcionar, bingo: melhore e cresça. Se não funcionar, aprenda: reveja os erros, refaça o caminho e tente novamente. A carreira em inovação – como o lean startup – é um eterno ciclo para construir, medir e aprender. 

#03 – Como ser levado a sério no meio dos post-its? 

Para finalizar este artigo, essa última parte nasce com 5 dicas rápidas para ser levado a sério nessa área. Sim, cada vez mais fazer carreira em inovação é sexy, mas centenas de vezes já fui chamado de “o carinha do post-it”. 

#01 – Seja um empreendedor pelo menos uma vez na vida

Desculpem a analogia, mas a área de inovação ainda está cheia de “sexólogos virgens”. Algumas das pessoas que mentoram, conduzem programas e iniciativas empreendedoras e dão dicas valiosas para pessoas que estão arriscando a própria pele, nunca sequer pagaram um salário na vida. Não sabem a sensação no estômago de dormir pensando como salvar o próximo trimestre de um negócio.

Se você QUER trabalhar na área de inovação, viva uma experiência de criação. Não precisa arriscar seu patrimônio, qualidade de vida ou o seu emprego atual. Porém, invista tempo e dinheiro para criação e validação de uma empresa do zero, tenha um CNPJ, contas para pagar e obrigações a cumprir. Entenda a jornada “calçando o sapato” dos empreendedores. Esse será o melhor MBA de Empreendedorismo da sua vida!

A grande maioria dos conselhos idiotas que ouvi de pessoas sentadas em cadeiras confortáveis com o salário garantido no final do mês vieram das pessoas que nunca viveram essa experiência. Não seja o sexólogo virgem. Não seja o “carinha do post-it” que nunca tentou criar nada na vida e vende dicas baratas dos livros de empreendedorismo que leu.

#02 – Tenha certeza de que você QUER trabalhar em inovação

Lembre-se de que existe um único motivo para você trabalhar em inovação: VOCÊ QUER TRABALHAR NA ÁREA DE INOVAÇÃO! Se você pensa em entrar na área porque viu uma lista de salários ou a profissão está no topo da lista de tendências para os próximos anos, esqueça! Essa é uma carreira para quem gosta do “skin in the game”.

Você vai saber que faz sentido para você uma carreira na área de inovação caso sinta-se confortável para trabalhar em ambientes “em construção contínua” e que exigem que você “escreva a sua próxima página”. Geralmente, ambientes como este não são caminhos conhecidos ou já trilhados. 

#03 – Encontre um mentor o mais rápido possível 

De preferência um mentor que já errou. Aprendeu, melhorou, cresceu e pode compartilhar sobre seus aprendizados. Sem romantismo, só vivência prática! Pode ser aquele que está no auge, mas desde que compartilhe o lado “fail” da carreira em inovação. Ter um mentor vai multiplicar a velocidade de aceleração da sua carreira na área se comparado com os livros de receitas empreendedoras prontas. 

A jornada empreendedora – e de qualquer carreira em inovação – nunca é linear, mas contar o lado romântico das histórias de sucesso vende muito mais livros. As prateleiras das livrarias estão cheias de “vá em frente, você consegue assim como eu consegui”. Estes são os  “junk food” do empreendedorismo moderno, fácil de ler, sem atrito algum. Mas ele não vai te levar a um próximo nível.

O seu mentor – ou mentorES – não será a pessoa que irá pegar na sua mão e guiá-lo pelo caminho até sua contratação – ou sucesso da sua empresa. O papel do mentor é compartilhar as experiências e aprendizados práticos nos momentos de inflexão da sua jornada. A responsabilidade pela jornada é TOTALMENTE sua. 

#04 – Entenda que inovação é sobre RESULTADO 

Você precisa focar em CRIAR a inovação. E isso vai além das oficinas e hackathons. Vou dar dois dos conceitos de inovação que costumo fixar em todos os projetos e iniciativas que eu conduzo. Para Peter Drucker “inovação é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos) existentes na empresa para gerar riqueza“. Já para o Manual de Oslo, inovação é a “implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas

Perceba que inovação é totalmente diferente de criatividade ou de qualquer outra atividade-meio para gerar resultados reais. Os dois conceitos referem-se à “inovação” como a capacidade de implementar e gerar riqueza a partir de novas ideias e conceitos. Eventos, hackathons, salas coloridas e post-its podem ser o caminho para se construir novas soluções, mas são apenas o meio. O resultado finalístico da inovação será – sempre – a capacidade de gerar vantagem competitiva e RESULTADO a partir de processos criativos. 

Trabalhando na área de inovação, você será o profissional do RESULTADO. É simples de entender, mas muito difícil de concorrer com “teatros” por toda a parte. 

Por fim, o conceito mais básico…

Coloque sua própria pele em jogo! Já falei anteriormente que as carreiras na área de inovação são as mais próximas da jornada empreendedora. Você irá conviver diariamente com jornadas de criação de negócios e transformação de empresas estabelecidas em cenários de altíssimo risco e incerteza. E assim será a sua jornada também.

Finalizo este texto com uma lista curta e em constante construção, biblioteca básica para entender este mundo. Se quiser seguir em frente, espero que não pare nos livros. A carreira na área de inovação é uma eterna jornada Lean Startup: construir, medir e aprender! 

#01 – Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos

Nassim Nicholas Taleb

#02 – Teoria U: como liderar pela percepção e realização do futuro emergente

Otto Scharmer

#03 – The Hard Thing about Hard Things: Building a Business When There Are No Easy Answers

Ben Horowitz

#04 – O Dilema da Inovação

Clayton M. Christensen

#05 – The Four Steps to the Epiphany

Steve Blankv